'BAITA TROVA de um JOÃO' é na verdade um relato verídico de fatos que acontecem na minha vida e que não interessariam a ninguém, no entanto são fatos atípicos que no meu entendimento merecem, no mínimo, um registro. Sei que descrever esses episódios acaba deixando-os mais frios e insípidos, mesmo assim sigo o baile!
Toda vez que surgir a “BAITA TROVA de um JOÃO” já saibam do que se trata!
Ah! Esses meus 'causos' não obedecem à ordem cronológica nenhuma, seguem apenas os ciclos randômicoS de minha memória segmentada!
Esse caso é realmente intrigante e VERIDICO.
Aconteceu comigo há alguns anos atrás em Porto Alegre / RS, no bairro boêmio da Cidade Baixa.
Era junho e me lembro que aquela noite estava especialmente fria. Nessa época eu morava sozinho num apartamento tipo JK, e minha única companhia era o grosso e pesado acolchoado com estampa de gosto duvidoso, presente de minha avó paterna.
O silêncio do prédio fazia com que todos os pequenos barulhos fossem extremamente audíveis na madrugada gelada.
Ao lado do prédio funcionava uma asa de bingo muito grande e freqüentada por toda sorte de pessoas. Até o começo da madrugada eu ainda podia ouvir ao longe e de forma abafadiça os números sendo cantados pelos locutores de vozes bem empostadas.
No horário previsto cessavam-se todos os sons e eu consegui enfim encontrar meu sono REM, mas aquele silêncio esperado abriu espaço para um outro som intrigante!
Quase caindo em sono profundo fui desperto por um conhecido som, mas que na hora não pude identificar qual era. Esperei pela próxima ocorrência, já que pareciam ser cíclicos os sons. E assim aconteceu. Um estranho sinal sonoro parecido com um ‘bip’ mais agudo e um pouco mais contínuo.
Apurei meus ouvidos, o som vinha de dentro do apartamento. A frequência dos ruídos não era simétrica, não havia naqueles sons uma regularidade ou um padrão, eles vinham e paravam alternadamente.
Certamente se fosse uma noite quente eu já teria pulado da cama e investigado cada canto do apartamento até descobrir a origem do som intrigante que perturbava meu sono, no entanto a madrugada estava gélida e até se mexer sob as cobertas e encontrar na cama partes inabitadas era muito desconfortante, desisti da investigação.
As horas passavam e o som parecia ainda mais impertinente, e eu mais e mais cismado. Um longo bocejo parece que despertou meus tímpanos. O som bizarro vinha da cozinha, mais especificamente vinha do micro-ondas. Era o som dos botões sendo programados.
O sono tinha me afetado o raciocínio, mas duas hipóteses eram obvias: ou era mau funcionamento do aparelho ou ele tinha adquirido vida própria e planejava dominar o mundo junto com todos os outros micro-ondas do planeta. Tendi para primeira hipótese, até por comodismo.
O trajeto até cozinha, apesar de curto, foi muito pesaroso. O frio era desanimador e foi nesse momento que pensamentos sinistros me aturdiram a mente, devaneios de um ser assonorentado. Se, como nos filmes de terror B, eu desligasse da tomada o aparelho e ele seguisse emitindo aqueles sons... seria sinistro.
Nada disso aconteceu naquela noite. Aparentemente um mau contato no painel de controle havia acionado alguns dos botões, por sorte não o de ligar, porque isso sim poderia ser perigoso. A noite seguiu tranqüila.
Antes de mandar para o conserto, amigos puderam presenciar alguns eventos semelhantes do micro-ondas pró-ativo, são minhas testemunhas.
Dois dias depois que meu micro-ondas retornou do técnico, numa noite igualmente fria, ele voltou a tentar aquele insólito contato comigo.
Sempre que acordo de madrugada tenho habito de verificar o horário, não é difícil, um relógio digital com números vermelhos brilhantes fica bem próximo à cabeceira da cama.
Três horas em ponto ele começou a emitir seus azucrinantes sons. Pra quem não sabe, três horas da madrugada é, supostamente, o horário do demônio. Eu sabia.
Do momento em que me levantei da cama até alcançar a cozinha os ‘bips’ foram cada vez mais seguidos, por fim já estavam quase num toque único e continuo, perturbador.
Abri a porta da cozinha particularmente irritado e intrigado, o técnico não havia encontrado nenhum defeito no aparelho e na semana em que ficou no conserto não havia apresentado qualquer problema.
Antes que eu conseguisse desligar o aparelho sinistro da tomada pude ver no visor digital uma seqüência de números que até hoje me deixa muito desconfortável.
No painel os números registravam o código do demônio: 666.
As pessoas hoje podem dar qualquer explicação para esse evento. Analisando friamente e ceticamente é claro que se trata de uma infeliz coincidência, tanto que hoje o caso é motivo de brincadeiras entre os meus amigos, e não poderia ser diferente.
Prefiro acreditar também na hipótese da coincidência dos fatos. Não pode haver um micro-ondas possuído, acho que o demônio se valeria de outro eletrodoméstico se quisesse se manifestar ou tentar um contato.
Se acredito no demônio? Eu acredito em Deus e não acho que possa existir o bem sem o mal. Talvez o “666” se use de sua baixa credibilidade para influenciar melhor as pessoas, ou nesse caso os eletrodomésticos (risos).
Esse não foi o único caso sobrenatural deste apartamento, mas deixo isso pra outra trova!