domingo, 31 de maio de 2009

ENTRE LÁGRIMAS (DUETO)


Aquelas lágrimas poderiam ter convencido a todos, mas não a ele que já conhecia o repertório dela há alguns anos.

Quantas vezes havia passado por situações semelhantes e sempre ouvia as mesmas promessas de que não viria mais isso acontecer, promessas que ele fez a si mesmo e também promessas feitas por ela. Tudo mentira. O fato era recorrente.

Aquelas lágrimas não lhe diziam mais nada, dessa vez alguma coisa havia mudado naquele homem. Talvez, finalmente, tivesse encontrado o seu limite. E provavelmente tarde demais.

Assistia impassível ao choro demasiado que lavava o rosto dela formando com as caudalosas lágrimas uma cachoeira vazia de sentimentos. A sua volta a emoção angariada por ela era o oposto do que ele sentia. Os outros consternavam-se com a cena que ela protagonizava com grande destreza.

O show era pra ele, o único que não a aplaudia.

Todos esperavam o gran finale. Ela havia se empenhado ao máximo naquele papel, ele preferia não estar pactuando com tudo aquilo, mas cabia a ele administrar a situação.

Em questão de segundos, antes mesmo de tomar qualquer atitude que pudesse ser considerada precoce pelos espectadores ansiosos por um desfecho, ele tornou a pensar em todo o longo e tortuoso caminho que os levara até ali. Não foram poucas as ocasiões em que ele havia questionado as razões porque ainda obrigava a si mesmo a manter-se naquela relação quase doentia. As lágrimas que ela derramava generosamente frente a uma plateia de desconhecidos não o surpreendia. Pelo contrário, era apenas mais um de seus artifícios, mais um de seus truques baratos, provavelmente aprendidos em seus dias de adolescente manipuladora, quando ainda não tinha nem mesmo as decepções inerentes da vida como justificativa para seu cinismo.

Ele poderia, sim, ignorar aquele choro que lhe enojava. Tinha todo o direito de fingir não perceber aquela cena patética que se desenrolava diante de si. Mas não era o que os outros esperavam dele. E mais uma vez ele estava prestes a fazer exatamente o que as pessoas – nesse caso específico, desconhecidas e ignorantes de todas as engrenagens que o havia levado até ali – desejavam que ele fizesse. Não, ele não faria de conta que nada estava acontecendo.

Pediu licença a plateia e foi ao até o caixa da loja. Entregou o cartão de crédito ainda com os músculos retesados pela raiva e pela vergonha do episódio. Aquele passeio inocente no shopping custou-lhe muito caro, ela havia escolhido o mais caro entre todos os vestidos da mais cara entre todas as lojas. Suspirou fundo e pensou duas vezes. Em casa ele teria que chamar-lhe a atenção novamente.


O QUE É O DUETO?

DUETO é uma série de contos que estou escrevendo com a participação afetiva e efetiva de amigos. Começo um texto e entrego para que esse parceiro prossiga a história sem qualquer informação extra. A soma dessas ideias é inusitada, ou no mínimo esquisita. Fazer é divertido ao menos!

Dessa vez ficou tudo em família. O convidado de honra é meu irmão CLÊNIO. Custou um tanto a me dar atenção, mas acabou cedendo as suplicas do seu irmãozinho.
Ele está encarnado agora na produção de uma peça teatral. Em breve devo falar melhor disso aqui no blog.



link dos duetos anteriores:
O NINHO, A MORTALHA, O EXTRATO, A REFORMA , A ESTAÇÃO

quarta-feira, 27 de maio de 2009

ÀS VÉSPERAS DE UM SONHO


Eu tenho andado um pouco ausente.
Minha familia em Camaquã que o diga.
Meus amigos que o digam.
Eu mesmo que o diga.

A faculdade tá chamando mais.
O trabalho, nossa, esse tá chamando muito nessas semanas.
Mas o que mais tem me consumido é uma outra coisa....

Acredito que em um pouco mais de um mês eu esteja realizando um grande sonho...
Vou deixar pra falar disso quando tudo tudo estiver 100%.
Essa ansiedade tá me matando....

terça-feira, 26 de maio de 2009

147 DIAS DE TRABALHO PARA O GOVERNO


Eu não ia falar nada, juro.

Eu não ia falar nada porque eu não faço nada pra mudar essa realidade absurda que me indigna tanto.

Me indigna também essa indignação sem frutos que todos temos ante a esses ultrajes de nossa sociedade.

Hoje chegamos a infausta marca de 147 dias trabalhados no ano somente para pagarmos impostos federais, estaduais e municipais.

Entendo a necessidade primordial de se cobrar impostos, ainda mais num país marcado por profundas desigualdades sociais. Acredito até que suportaria essa carga tributária mais facilmente se todos esses bilhões não fossem parar nas mãos de uma corja corrupta.

Não estou generalizando, apenas classificando a maioria dos políticos brasileiros, que cedo ou tarde, com boas ou más intenções acabam dragados pela máquina contaminada do poder.

Enquanto isso, eu, aqui no meu canto, vou tentando de 4 em 4 anos acertar na escolha, mas confesso que cada vez menos vejo esse "poder" de escolha surtir qualquer efeito, num país onde até os líderes diferentes são iguais.



sábado, 16 de maio de 2009

UN RECORRIDO EN URUGUAY


Nesse fim-de-semana fui até o Uruguai.
Nem sei bem por que, mas fui!
Acordei com um frio de 4ºC, e isso não foi bom!
O passeio se resumiu a algumas compras,
que é o que todos brasileiros fazem por lá.
Vale a pena comprar perfumes e bebidas,
o resto não vale a viagem.
Não foi o passeio cultural que eu gostaria de ter dado,
conhecer Montevideu também não foi o caso,
mas lá no final das contas, VIAGEM é sempre bom!
Saldo positivo!
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EL INTRUSO (DELMIRA AGUSTINI)

Amor, la noche estaba trágica y sollozante
Cuando tu llave de oro cantó en mi cerradura;
Luego, la puerta abierta sobre la sombra helante,
Tu forma fue una mancha de luz y de blancura.

Todo aquí lo alumbraron tus ojos de diamante;
Bebieron en mi copa tus labios de frescura,
Y descansó en mi almohada tu cabeza fragante;
Me encantó tu descaro y adoré tu locura.

Y hoy río si tú ríes y canto si tú cantas;
Y si tú duermes duermo como un perro a tus plantas!
Hoy llevo hasta en mi sombra tu olor de primavera.

Y tiemblo si tu mano toca la cerradura,
Y bendigo la noche sollozante y oscura
Que floreció en mi vida tu boca tempranera!

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O INTRUSO (
Traduzido por Anderson Braga Horta)

Amor, naquela noite trágica e soluçante
Cantou tua chave de ouro em minha fechadura;
E logo, a porta aberta sobre a sombra arrepiante,
Te vi como uma mancha de luz e de brancura.

Tudo me iluminaram teus olhos de diamante;
Beberam-me na taça teus lábios de frescura,
Na almofada pousaste-me a cabeça fragrante;
Amei-te o atrevimento e adorei-te a loucura.

E hoje rio se ris e canto se tu cantas;
Se dormes, durmo como um cão a tuas plantas!
Na própria sombra levo a tua recendente

Primavera; e, se a mão tocas na fechadura,
Tremo e bendigo a noite que -soluçante e escura-
Floriu na minha vida tua boca amanhecente.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O NINHO (dueto inverso)

- Se você não subir por esta escada agora, quando voltar me encontrará morta!

Os vasos quebrados, as marcas no rosto, a maquiagem borrada, tudo estava em sintonia com o grau de superlatividade que a protagonista dava a cena.

O homem que não soube ordenar os álibis não balbuciou sobre a ameaça desferida e seguiu os trinta metros em direção ao carro carregando apenas o que ali havia consigo, crendo que o dramalhão ali presenciado teria seu desfecho no dia seguinte sem maiores tragédias, como aconteceu durante os últimos meses do casal.

Mas, naquele instante, algo havia mudado naquela mulher. As cartas, roupas, perfumes e todo rastro do homem que ali a havia deixado foram amontoados junto à cama, jogados perto da lareira. Ao invés de picar com a tesoura ou incinerá-los, a mulher montou-os a formar uma espécie de ninho e sobre os restos do homem que a deixou, morreu.

O ninho que acolheu sua morte naquela noite foi o mesmo que serviu como berço para que ela renascesse ainda mais vigorosa na manhã seguinte. Ela trazia consigo todos os motivos para sobreviver.

Acordou muito mais cedo que o de costume, teria um dia cheio. Pela janela a forte serração daquela manhã turvou-lhe a visão do que estava por vir.

Deixou ordens claras aos advogados que cuidariam do divorcio, ou da viuvez, como ela preferia tratar o assunto, sendo que ele era o viúvo dela. Ainda naquela manhã ela foi as compras, renovou o guarda-roupa, o salão de beleza lhe deu novos contornos e molduras. Em menos de 24 horas finalmente o corpo estava em simetria com a mudança que seu interior havia sofrido.

Não voltaria a viver naquela casa, não compartilharia mais amigos com ele, não aceitaria subserviente os desmandos daquele homem que tanto amou. Seria sofrido, mas era necessário para a sobrevivência ainda frágil daquela nova mulher. Apesar de tudo não sentiu-se sozinha.

Afagou a abdômen que ainda não dava sinais da vida que se abrigava ali. Enfim a neblina havia se desfeito totalmente e com o céu claro e limpo o sol tocou seu rosto, forte, quente, e ela teve a certeza que fizera a escolha certa.

Adiou por mais tempo que pode o reencontro com o seu viúvo, mas os advogados acharam melhor que as primícias do divorcio fossem discutidas entre eles.

Os dois haviam deixado a casa, mas o encontro seria naquele mesmo chão que pouco tempo atrás testemunhava as juras de amor eterno. Dessa vez ele estava sereno, não sentia nada de especial naquele que seria um encontro de negócios apenas. As brigas tornaram-se tão rotineiras que as últimas já não lhe causavam emoção alguma. Então entrou, caminhou pelo corredor forçando os passos no piso de madeira a fim de anunciar sua chegada.

Não havia a menor intenção de diálogo conciliatório por parte dele, e ao mover-se em direção a mulher, parou a menos de um metro da cama, onde a mesma se encontrava sentada perto a beira.

A mulher já o notara na casa desde que o primeiro movimento e, ao contrário do homem, sentiu que seu corpo reagiu inteiro aquela presença e por um instante pensou em se levantar e ir ao encontro dele.

Na verdade ela não queria, definitivamente, a menor intimidade com ele que ali, a um metro de distância, já não lhe servia de referencia ao passado que ela inventou para aquela nova mulher que estava ali, estreiando uma nova vida a um metro de distância do homem que provocou sua morte prematura.

- Gustavo...

O homem avançou e sentou ao seu lado e entre os dois corpos criou-se um vão gigantesco, interligado por uma ponte que estava ruindo.

- Imagino que você veio para começarmos de onde paramos, mas já aviso que o meu começo não te inclui. Te deixo a casa, os móveis e toda a história que aqui tivemos, nem o seu sobrenome quero levar, sairei daqui carregando apenas o que é meu de direito.

Gustavo não entendeu os detalhes do que ela havia dito, mas soube, pelo tom empregado, que não haveria volta e perdeu-se de subito. Ao olhar aquela estranha saindo da casa carregando consigo apenas uma pequena valise foi ele quem sentiu-se um estranho no ninho.

Ficou ali, admirando aquela nova mulher que não chegaria a entrar em sua vida. Não conseguiu compara-la a antiga mulher que deixava sua vida. Antes que ela atingisse o hall, ele notou que seu fluxo sanguíneo direcionava o sangue a uma velocidade muito mais rápida que o normal e antes que conseguisse pronunciar o nome dela, a mulher já tinha batido a porta da rua.

E foi então que ele se apaixonou por aquela mulher e nunca mais a viu, nem ela e nem quem ela trazia consigo no ventre.

O QUE É O DUETO INVERSO?

Eu sabia que um dia chegaria minha vez! Não é nada muito novo, é a mesma fórmula dos DUETOS anteriores, simplificadamente um começa um conto e um outro termina. A diferença é que dessa vez não foi eu quem começou. Dom Fernando puxou o tema e o resto vocês já sabem...


p.s. link dos duetos anteriores:
A MORTALHA, O EXTRATO, A REFORMA
, A ESTAÇÃO

domingo, 10 de maio de 2009

DIA DAS MÃES


Não deu pra ir até Camaquã!
Não deu pra dar aquele abraço, aquele cheiro.
Não deu pra matar a saudade!
Mas graças a Graham Bell eu pude me fazer presente!

MÃE, OBRIGADO POR TUDO!
TE AMO MUITO!

(acho que ela nem sabe o que é um blog!!)

domingo, 3 de maio de 2009

FERIADÃO NA GARRAFA


Contrariando a mim mesmo,
minha conta bancária,
minhas cinco provas dessa semana.
Contrariando a lógica,
o discernimento,
a inteligência
e ao bom senso.
EU PASSEI O FERIADÃO DENTRO DE UMA GARRAFA!
(nenhum amigo pode me ajudar, eles estavam lá dentro comigo!)



alguém manda me avisar que eu não tenho mais 20 aninhos!!

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